domingo, 4 de janeiro de 2009

Algumas Reflexões - Planejamento Financeiro e Pão-Durismo

A idéia de se fazer um planejamento financeiro não é a de se tornar um “pão-duro”, que só pensa em guardar dinheiro a qualquer custo, mas sim a de racionalizar o gasto e aplicação do dinheiro de acordo com o salário, rendimentos, despesas e investimentos necessários para realização de sonhos e grandes objetivos.
Afinal de contas, todo mundo merece cultura, diversão, arte, viagens... resumindo, lazer e conforto. Ou seja, conversão do dinheiro recebido pelo trabalho em momentos de entretenimento para si, amigos e familiares. Este é um dos grandes motivos que nos incentiva a trabalhar.
Os atos de se juntar dinheiro, economizar e investir podem e devem estar completamente dissociados da avareza. Podemos viver tranqüilamente, ir jantar fora, assistir a um filme no cinema, viajar, fazer o que desejarmos, mas com uma condição, que sempre tenhamos em mente que precisamos juntar um pouco do que recebemos para eventos futuros, muito mais grandiosos e importantes do que os que estão ao nosso alcance hoje.
Toda essa discussão entre gastar ou guardar dinheiro parte da dificuldade que a maioria das pessoas tem de juntar um pouco do seu salário, seja para momentos de crise, de necessidade ou até para realizações pessoais, como a compra de um apartamento, de um carro ou uma viagem. Parece que grande parte da sociedade em que vivemos vê o ato de fazer uma reserva financeira com maus olhos, como se o certo a se fazer todo mês ao receber o salário fosse sair comprando de tudo, para dar vazão aos seus impulsos.
Impulsos consumistas, partidos de uma sociedade em que o ter é mais importante que o ser. Atualmente, vivemos sob um constante bombardeio de informações vindas de todos os lados, internet, televisão, rádio, outdoors, jornais, revistas, até mesmo outras pessoas, todas com uma única finalidade: convencer ao maior número de pessoas possível que o produto ali anunciado ou tema da conversa é completamente necessário nas suas vidas. Esta é a alma da propaganda: dar uma utilidade a um produto, vender uma idéia, uma filosofia de vida, tudo baseado em um item que pode ser comprado logo ali na esquina e poderá melhorar o seu dia-a-dia incomensuravelmente.
As pessoas mais afetadas por isso são em sua maioria jovens, adolescentes, que por viverem quase sempre em grupos, na escola ou mesmo na universidade precisam se afirmar perante os outros, para não serem excluídos do convívio com seus colegas. Uma forma de se fazer isso é exibindo que tem a camisa da marca da moda, o tênis novo, o celular com um monte de funções... E de onde vem isso? Do bolso dos pais, do seu trabalho.
É claro que não são apenas os jovens, os afetados, somos todos sem distinção de sexo, idade ou raça.
O que devemos fazer sempre é pensar um pouco mais antes de sair comprando. Temos que refletir se o tal produto almejado é realmente necessário em nossas vidas. Precisamos nos questionar sobre a real utilidade que ele vai ter. Será que vale a pena desembolsar o valor que está sendo cobrado pela loja? Será que não seria melhor guardar um pouco mais de dinheiro, para comprar um item melhor no futuro? Se for constatada a real necessidade de compra então devemos novamente nos questionar, será que não existe um similar ou genérico, bem mais barato, que vá fazer as mesmas coisas que um de marca famosa ou mais caro faria? Devemos levar em conta a confiabilidade ou durabilidade do produto que compraremos, não apenas o preço, e por isso mesmo deve ser feita uma boa pesquisa antes de se efetuar a compra. Muitas vezes o produto mais barato não é de pior qualidade, pelo contrário, pode até ser superior, a diferença vai estar apenas na marca (e no preço).
Lembre-se que você estará comprando um produto, não uma marca, ideologia ou filosofia de vida. Não se deixe levar por impulsos, pesquise preços antes de comprar e o principal, questione-se até o último instante sobre a real utilidade do produto na sua vida e se não vale a pena esperar mais um pouco para comprar algo mais importante.
Qual é a lição mais importante a se tirar de toda esta discussão? “Pague antes a você mesmo.” [1]
Pagar antes a você mesmo significa guardar dinheiro, juntar certa porcentagem do seu salário, sem nunca contar com ela para pagar suas contas e compras. É fingir que esta fatia a ser guardada todo mês é como um desconto em folha, que fizesse parte apenas do seu salário bruto, sendo subtraída da soma que poderá ser gasta até o fim do mês, quando entrará o seu próximo salário.
Engana-se profundamente quem pensa que juntar dinheiro e gastar menos vá causar a redução no seu nível e qualidade de vida. Sim, é possível ser igualmente feliz tendo um nível de consumo menor, comprando menos futilidades e não desperdiçando dinheiro das formas mais variadas possíveis.
Ainda podemos ir além neste pensamento: quem junta dinheiro e gasta um pouco menos do que poderia gastar atualmente tende a ter uma qualidade de vida superior a de que uma pessoa que vive apenas para o presente, gastando todo o seu salário mensalmente. Por que? Porque o dinheiro traz segurança para quem o tem, ao dar a garantia de que os momentos incertos, de dificuldade, que podem estar por vir (o futuro é incerto), serão contornados mais facilmente. Esta segurança vem, por sua vez, trazer harmonia, paz entre os familiares, ou paz interior, diminuindo brigas e desentendimentos de forma geral, ampliando com isso a qualidade de vida.
Ao analisarmos desta forma, podemos concluir que uma família falida, ou com gastos excessivos, tende a ter uma qualidade de vida inferior a de uma família com as suas contas bem balanceadas.
Por outro lado, podemos observar comportamentos que contradizem esta última análise. O excesso de dinheiro pode levar à queda da qualidade de vida, por exemplo, quando uma família briga pela herança generosa de um patriarca ou um prêmio de loteria.
Com isso, podemos chegar a uma conclusão completamente diferente: o excesso de dinheiro é capaz de gerar discórdia e desavenças entre familiares.
Por que, então, ocorrem brigas quando há dinheiro em jogo? Provavelmente, porque existem pessoas que querem gastá-lo em benefício próprio, em causas pessoais, como um ato egoísta. Neste ponto não existe mais um problema financeiro, que levará a confrontos, mas sim problemas éticos ou comportamentais.
Quem briga pelo excesso de dinheiro, provavelmente não o vê como um problema, mas sim como a solução para os seus problemas existentes, ou uma forma de melhorar a vida.
Portanto não deve haver uma comparação direta entre a queda da qualidade de vida proporcionada pela falta ou excesso de dinheiro.
É importante observar que não existem regras definindo como as pessoas agirão em situações como as exemplificadas anteriormente, mas sim tendências comportamentais. O que pode ser afirmado é que tanto a falta quanto o excesso de capital aumentam a probabilidade de existirem brigas e desavenças familiares, enquanto que contas balanceadas, uma vida financeira ajustada e educação financeira, contribuem para uma boa qualidade de vida.
[1] A lição “pague antes a você mesmo” é uma das mais enfatizadas no livro Pai Rico Pai Pobre de Kiyosaki, Robert T. e Lechter, Sharon L.

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